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Águas urbanas, um desafio para Jacarta, na Indonésia

  • Foto do escritor: Rhama Analysis
    Rhama Analysis
  • 4 de out. de 2008
  • 3 min de leitura

Durante o mês de agosto, passei quase duas semanas em Jacarta, capital da Indonésia, analisando os diferentes aspectos das águas urbanas da região Metropolitana. Antes de chegar a Indonésia eu conhecia muito pouco sobre o país e o que aprendi me surpreendeu em alguns aspectos.

É um país de várias ilhas e a cidade de Jacarta fica na ilha de Java. A cidade tem da ordem de 9 milhões de habitantes e sua região metropolitana é maior que a de São Paulo, pois tem 24 milhões. A Indonésia como um todo tem população maior que a do Brasil (numa área bem menor), com cerca de 220 milhões de habitantes. Atualmente está chegando a uma população urbana de 50%.

A cidade cresceu de jusante para montante no rio principal chamado Cilwiung, aumentando muita a ocorrência das inundações na sua parte mais baixa, próximo ao mar, devido a: aumento do pico das enchentes pela urbanização, redução da capacidade dos rios devido assoreamento e lixo, rebaixamento do nível do terreno na parte baixa devido a diminuição da recarga (impermeabilização) e retirada de água subterrânea para abastecimento de água de forma difusa.

Somente 50% da população tem água e o restante retira de poços rasos (contaminados) e profundos (população com mais renda). No hotel que fiquei era recomendado não usar á água da torneira, mesmo para escovar os dentes. A água distribuída (o restante 50%) vem de bacias vizinhas e de reservatório que apresentam alto nível de contaminação. Os rios da cidade estão contaminados e cheios de lixo. Não há tratamento esgoto e o sistema de coleta de resíduo sólidos, na maioria das casas praticamente não existe, da mesma forma que a limpeza das ruas (somente nas principais avenidas). Cada bairro deve providenciar sua limpeza, coleta e disposição em centros de coleta para disposição pela Prefeitura. Foi estimado que a carga de lixo que não é coletada é da ordem de 18% do total produzido !!.

Parte importante da cidade tem uma alta densidade de população, mesmo sem edifícios, mas com ruas estreitas e alta ocupação como favelas. Uma densidade que estimei da ordem de > 400 habitantes/hectar. A impressão é que todas as pessoas têm uma moto (transporte urbano praticamente inexiste, somente nas grandes avenidas). Nunca vi tanta moto junta. O tráfico é um caos organizado, passei quatro dias rodando de carro pela cidade e, em vários momentos, numa esquina tudo parava, carros e motos. Neste momento uma pessoa sai de algum lugar e começa a distribuir o tráfego que acabava fluindo. Estas pessoas fazem isto voluntariamente (algumas vezes ganham gorjeta).

Neste cenário de aparente caos se desenvolve uma cidade com aparência de moderna, mas com graves problemas ambientais de águas urbanas que necessita urgentemente de remédios, para não gerar riscos sérios. Apesar de tudo são pessoas muito alegres e amistosas. Não existe violência e o tráfico de droga é penalizado com sentença de morte. A esmola nas ruas é proibida e pode-se pagar grande multa. Dentro das águas urbanas, fiquei com o desafio de propor medidas de gestão integrada de águas urbanas dentro de uma perspectiva de curto, médio e longo prazo. Este é o melhor exemplo de que abastecimento de água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos devem ser planejados de forma integrada. Atualmente o esgoto contamina os mananciais, os resíduos sólidos entopem os rios e o uso da água ajuda criar risco de inundação nas zonas baixas pela retirada de água subterrânea. Serão necessários mais argumentos para mostrar aos engenheiros que não é possível continuar planejando de forma fragmentada ?

Alguns pontos me surpreenderam muito: (a) A maioria das pessoas, mesmo ambientalistas, não viam a falta de tratamento de esgoto como um problema!! O que se via nos rios era esgoto puro com muita emissão de metano!!; (b) a maioria não sabia que a impermeabilização e a canalização podiam estar aumentando as vazões de inundações!! O problema é ainda tratado como um processo natural. Aliás em grande parte dos fóruns mundiais com profissionais que tratam isto para organizações internacionais isto também não parece ser compreensível !! Portanto, não são somente os problemas já existentes, mas a própria compreensão dos mesmos é que são os maiores desafios.

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