Hidrograma ambiental
- Rhama Analysis

- 4 de out. de 2009
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Nas últimas semanas discutimos a metodologia de enquadramento de um rio, que tem seu padrão de qualidade da água associado a uma vazão de referência. Esta vazão de referência está relacionada com a chamada “vazão sanitária”, que é o critério de vazão mínima ou de estiagem que permita manter a qualidade da água adequada. Portanto, a concentração obtida na norma somente será rompida para vazões inferiores a de referência adotada. O efeito ambiental sobre a variação da quantidade de água de um rio é tratado por diferentes denominações como: vazão remanescente, vazão ambiental, hidrograma ambiental ou ecológico. Quando é mencionado um valor de vazão pode passar a idéia que basta fixar uma vazão limite para dar sustentabilidade ambiental, enquanto quando se menciona o hidrograma, parte-se do princípio que o que se busca é um padrão de variabilidade temporal da vazão para permitir as condições desejadas. Os objetivos ambientais são de minimizar as alterações da quantidade de água no tempo e no espaço que afetem funcionamento dos ecossistemas. O regime de vazões influencia diretamente a composição e integridade biótica de corpos d’água. A biodiversidade está diretamente atrelada à heterogeneidade de habitats, a qual depende da manutenção de padrões naturais de vazão. O regime hidrológico é caracterizado pelas variáveis hidrológicas como vazão, velocidade, profundidade do escoamento, e sua variabilidade expressa por: magnitude, freqüência, duração, previsibilidade e taxa de variação. Estas variáveis influenciam os elementos que compõem a integridade biótica representado pela: qualidade da água, suas fontes de energia, habitat físico e interações bióticas. Na figura abaixo é representado o hidrograma e as partes do mesmo no qual são identificados os princípios esperados de sustentabilidade da integridade biótico dos corpos de água. No primeiro princípio são caracterizados as relações do canal de escoamento e o habitat e a diversidade biótica representada pelo hidrograma médio. O segundo princípio caracteriza os padrões de vida que necessita da variabilidade hidrológica sazonal e inter-anual. No terceiro princípio envolve a conectividade longitudinal e transversal dos fluxos e nutriente associados, o que está relacionado com as taxas de variação das vazões ao longo do ano e entre anos. O quarto princípio caracteriza o comportamento do regime natural que alterado pode inibir invasões. Do conflito entre usos dos recursos hídricos e as alterações na variabilidade das vazões para a conservação do regime hidrológico, surge a necessidade de trabalhar regimes de vazões que mantenham aspectos-chave do regime natural, e não mais assumir a possibilidade de proteger completamente ecossistemas. Para buscar este equilíbrio entre demandas de alocação de água e a conservação ambiental é necessário estabelecer metas que estão relacionadas diretamente com o ecossistema em estudo. Esta prática envolve a conservação e manutenção de bens e serviços ambientais considerados essenciais e a orientação para o desenvolvimento de atividades antrópicas em função da capacidade de suporte destes ambientes. Para atingir estas metas é necessário responder algumas perguntas como: • Quais os aspectos ambientais que dependem da distribuição temporal e espacial das variáveis hidrológicas?; • Dentro destes aspectos quais as metas (o que desejamos conservar?) que devem ser atingidas quanto à conservação do sistema? • Quais as principais ações antrópicas que ameaçam estas metas? • Quais os indicadores que permitem avaliar as relações causas – efeito e quantifica a mitigação dos efeitos das ações antrópicas? Portanto, em cada realidade ambiental devem-se identificar as metas ambientais de conservação os condicionantes sobre o hidrograma a ser mantido. O conhecimento eco-hidrológico é ainda limitado para dar respostas determinísticas a estas perguntas. Várias técnicas estatísticas têm sido usadas para buscar estas respostas, mas ainda não temos relações definidas que nos permita estabelecer metodologias indiscutíveis quanto a relação causa-efeito. Existe ainda um espaço muito grande de pesquisa dentro desta área, mas é necessário interligar conhecimentos biológicos e hidrológicos.
Figura Principíos do Hidrograma ecológico Bunn, S. E.; Arthington, A. H. 2002 Basic principles and ecological consequences of altered flow regimes for aquatic biodiversity. Environmental Management Vol. 30 No. 4 pp. 492-507

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