Ecohidrologia e sua perspectiva
- Rhama Analysis

- 25 de abr. de 2009
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Em 2002, num artigo para a Water Resource Research, Rodriguez-Iturbe (professor venezuelano de Princenton) apresentou sua perspectiva sobre este tema dentro de uma visão de pesquisa e desenvolvimento da hidrologia e veio a ganhar poucos anos depois, o prêmio de Estocolmo sobre água por seu trabalho neste assunto. O autor define ecohidrologia (ecohydrology) como a ciência que procura descrever os mecanismos hidrológicos que sustentam o comportamento e os processos ecológicos. Destaca também, que as características ecológicas é que fazem com que as regiões sejam diferentes. A dinâmica de interações, em diferentes escalas, que ocorrem nos fenômenos de vegetação, solo, água e clima geram estes cenários. Introduzindo neste conjunto a ação antrópica, mostra a complexidade da realidade de cada ecossistema. A Unesco criou um Programa onde destaca este tema como o efeito do ciclo hidrológico nos processos ecológicos e na qualidade de vida do ser humano, considerando a escala da bacia hidrográfica. Existem dois focos fundamentais na pesquisa de uma área tão recente do conhecimento:
(a) A pura pesquisa dos processos e entendimento de suas interações;
(b) Desenvolvimento de elementos para tomada de decisão na gestão de recursos hídricos. Estas duas ações possuem forte interação, mas possuem focos específicos. A pesquisa básica representada pelo primeiro deve ser o suporte do segundo. Na pesquisa é necessário conhecer como a relação clima-solo-água-planta se relaciona em diferentes escalas de tempo e espaço, tendo como forte externalidade a ação antrópica do ser humano. Imagine que para cada realidade haverá uma combinação das variáveis mencionadas. É como traduzir o DNA do ecossistema antrópico. A ciência desenvolveu o conhecimento por fragmentação e os pesquisadores provêm de diferentes disciplinas como biologia, geologia, agronomia, engenharia, metereologia, entre outras. O desafio é que estes profissionais se reinventem, ampliando seus conhecimentos, eliminando a fragmentação da sua formação e integrando os conhecimentos necessários para buscar o entendimento destes processos. A Hidrologia é uma ciência que praticamente evoluiu no século 20 de forma esparsa até os anos 70, por disciplinas com trabalhos de Horton em infiltração, Gumbel em estatística, Darcy e Theiss em água subterrânea, entre outros. Na área de engenharia, a preocupação era obter as vazões para projeto como o método racional do final do século 19 e a equação de Saint Venant, Manning, etc. em hidráulica. Com a chegada do computador na metade do século XX, a hidrologia ampliou-se no sentido de integrar os conhecimentos adquiridos em modelos da bacia hidrográfica, mas como muitas simplificações empíricas. Estas técnicas foram utilizadas principalmente por engenheiros para projetos de recursos hídricos. Estes projetos se baseavam sempre (até hoje) que uma série de comportamento do passado seria representativa do futuro, não alterando o comportamento da bacia hidrográfica ou o clima. No entanto, já nos anos 80-90, verificavam-se o grande antropismo das bacias e como isto interferia na hidrologia e no comportamento dos ecossistemas, necessitando melhor conhecimento para buscar mitigar estes impactos ou mesmo evitá-los. De outro lado, o clima não estável como supúnhamos, variabilidades e mudanças climáticas mostram que entre décadas tudo pode mudar! Nestas últimas décadas, os métodos e o conhecimento melhoraram, mas existe um longo caminho pela frente e o maior deles está na escala dos efeitos. A ciência sempre se primou por estudar a pequena escala para reproduzir a macroescala. Esta é a ciência que conhecíamos, mas existe uma parte do conhecimento muito recente que mostra que os efeitos não-lineares são caóticos e estudar na micro-escala não permite explicar a macro-escala. O que acontece numa área de alguns m² ou hectares, quanto a solo-água-planta-clima e o homem não explicam o que ocorrerá numa bacia hidrográfica. Este desafio não é novo, principalmente no Brasil, país com grandes biomas sujeitos a grandes pressões. A ecohidrologia de cada realidade tem sua particularidade e o conhecimento de cada um dos biomas necessita ser desvendado e não pode ser comprado no exterior. Um lindo desafio, que cabe a todos nós encontrar os caminhos e soluções.
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