Crise da água e desafios reais
- Rhama Analysis

- 28 de jun. de 2009
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A revista Economist em matéria de Abril passado retoma um tema que tem sido destacado inclusive pelo secretário geral das Nações Unidas, que é a falta de água e suas implicações futuras relacionada com o desenvolvimento social e econômico. A água tem sido vista principalmente dentro de uma perspectiva local e quanto muito, regional, quanto a disponibilidade e uso. Não se pode imaginar o transporte e comercialização global da água devido principalmente as restrições de custo e as alternativas tecnológicas como a dessalinização. Isto implica que quando falta água (como ocorreu neste outono no Sul do Brasil e existem excessos como no Nordeste, não é possível transferir este recurso de um lugar para outro com estas distâncias a um custo aceitável. Os condicionantes de risco sempre foram dentro de uma perspectiva local e regional. No caso regional, pode-se ainda buscar transferir água entre bacias como o do projeto do São Francisco e o do rio Piracicaba que abastece São Paulo. No entanto, são em casos limitados. Sendo assim, cada realidade tem seus riscos específicos em função dos seus condicionantes naturais (disponibilidade) e os de uso ou demanda relacionada com: abastecimento de população, indústria, animais, agricultura, energia, navegação, recreação, a diluição de efluentes e manutenção do ambiente. Em locais de grande demanda agropecuária, o maior consumidor de água a escassez pode ser de demanda, nas grandes cidades a poluição dos efluentes reduz a disponibilidade, mas todos apresentam condicionantes locais de risco de escassez. O recente relatório das Nações Unidas denominado World Water Assessment, alerta para o aumento da falta de água a nível local e regional e, mesmo mundial, em função não somente das condições de variabilidade e mudança climática, mas do aumento de demanda em função do aumento populacional, já que o globo saiu de 3 para 6 bilhões atualmente e, em apenas 50 anos deve chegar a mais 3 bilhões de pessoas. O consumo de água triplicou nos últimos 50 anos. Esta questão passa de local para mundial quando incorporamos a demanda dos produtos agropecuários e industriais embutido nos produtos, denominado de “água virtual”. Portanto, a água pode ser transferida no comércio global na forma de insumo da produção industrial e agropecuária. Como a agropecuária é o maior usuário de água mundial, com 70% e consume água na medida em que produz alimentos. Este consumo se dá pela evaporação da água utilizada na sua irrigação e mesmo no seu crescimento. Existem as seguintes tendências neste processo, o aumento da demanda de água em função da população, que demanda água para seu consumo e pelo seu uso na produção de alimentos. Também se deve considerar o aumento da demanda pela mudança de dieta da população que economicamente está mudando de patamar de renda e consumindo produtos que utilizam mais água. Dependendo do tipo de clima, variedades e práticas agrícolas o consumo de água varia na produção, da mesma forma que na pecuária, onde varia em função do clima, insumo e práticas. Assim, 1 kg de carne pode usar de 1.000 a 20.000 litros de água. De acordo com a dieta diária, uma pessoa pode utilizar de 2000 a 5000 litros de água (Estima-se que 1 litro corresponda a 1 Kcaloria). Considerando um demanda média de 2.800 litros por pessoa para dieta e mais 200 litros para uso diário nas residências, resulta num total de 3,000 l/dia/pessoa. O acréscimo de mais de 3 bilhões de pessoas até 2050 na população mundial aumentará a demanda em 104.000 m3/s que corresponde a cerca de 60 -70% da vazão média do rio Amazonas. Ainda assim, deve-se considerar que países como China e India que estão prosperando em termos sociais e econômicos, deverão aumentar a quantidade de água per capita devido ao aumento de proteína na sua dieta. Nesta perspectiva a água passará a ser uma importante commodity no mercado mundial de produtos, embutida na produção de alimentos e produtos industrializados. Isto fará com que os países com terra, água e capacidade produtiva tenham valorização do seu mercado. A produção deve ser local, mas o mercado é global. No entanto, a gestão ainda não deu o valor devido a este produto dentro da cadeia produtiva. Este é o grande desafio a ser buscado, visando dar mais eficiência, sustentabilidade e retorno econômico.



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