Mudança climática I
- Rhama Analysis

- 8 de ago. de 2008
- 3 min de leitura
Neste espaço foram apresentadas várias entrevistas sobre mudança climática e todos os dias são discutidos nos jornais e TV o tema de mudança climática. Recebi um questionamento de que, como o assunto tem aspectos científicos, grande parte das pessoas desconhece os fundamentos da mudança climática e como este assunto se diferencia do clima natural. Para procurar orientar sobre o assunto, vamos apresentar aqui uma sequência de textos com conceitos sobre o assunto.
O IPCC (Comitê internacional sobre mudança climática) define modificação climática como as mudanças de clima no tempo devido a variabilidade natural e das atividades humanas (ações antrópicas). Já o Framework Convention on Climate Change (outro grupo também relacionado com as Nações Unidas) adota para o mesmo termo a definição de mudanças associadas direta ou indiretamente à atividade humana que alterem a variabilidade climática natural observada num determinado período. A separação dos dois efeitos é uma tarefa difícil e tem sido realizada apenas com o auxílio de modelos matemáticos e, portanto, com um certo grau de incerteza. Por uma questão de precisão, sempre que abordamos apenas o efeito natural do clima, vamos utilizar o termo variabilidade climática natural.
Para iniciar é importante entender o que é a mudança climática e o efeito estufa e a parcela natural a devido ao efeito do homem. A radiação solar de onda curta penetra a atmosfera, aquecendo a superfície da terra. Parte desta radiação é absorvida e parte é refletida de volta para a atmosfera (albedo). A parcela absorvida produz aquecimento na superfície, que emite radiação de onda longa (radiação térmica) que pode ser absorvida pelos gases encontrados na atmosfera, como o vapor d’água e o dióxido de carbono (CO2). A absorção desta radiação de onda longa aquece a atmosfera, aumentando a temperatura da superfície. Este é o denominado efeito estufa. O efeito estufa é um processo natural no globo, produzido principalmente pelo vapor de água, além de outros gases. Se não houvesse este efeito na atmosfera da Terra, a temperatura da superfície resultante do balanço de energia seria 33º C mais fria. A falta de efeito estufa, caracteriza, por exemplo, climas desérticos onde o dia é muito quente e a noite muito fria.
A modificação climática como efeito antrópico, é resultante do aquecimento adicional da atmosfera devido ao aumento da emissão de gases produzido pelas atividades humanas e animal na Terra. Este aumento de gases aumenta o efeito estufa, aquecendo ainda mais a temperatura. Os principais gases que contribuem para este processo são: o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido de nitrogênio e CFC (clorofluorcarbono). O CO2 é produzido pela queima de combustíveis fósseis e produção de biomassa.
O CO2 de combustíveis fósseis representam 56,6% das emissões, o N2O, da agricultura, representa 7,9%, CO2 do desmatamento e turfa, 17,3%, o metano (CH4) de efluentes da agricultura e energia representam 14,3%. O dióxido de carbono (CO2) é o mais importante gás de efeito estufa (GHG). Em 2004, representava 77% do total e cresceu 80% no período de 1970 a 2004.
Para avaliar os impactos deste processo a ciência desenvolveu modelos matemáticos climáticos que procuram representar a atmosfera, os processos na terra e no oceano, além da própria interação nos processos terrestres que afetam o clima, como a interação água-solo-planta. Estes modelos são chamados de Modelos Globais climáticos (GCM) e representam o globo com malhas da ordem de 100 km em vários níveis na atmosfera. Os modelos têm previsto vários cenários futuros e suas consequências sobre a terra (aumento da temperatura, variação da chuva e vazão dos rios e aumento do nível dos mares), com grande variação entre si (num texto futuro vamos explicar as principais características destes modelos e resultados).
A forma encontrada para minimizar o efeito dos gases é o de reduzir as emissões, apesar do efeito dos gases já emitidos perdurar por muito tempo. Para reduzir as emissões, foi realizado o acordo de Kyoto que alguns países, que são grandes emissores, não assinaram, como os Estados Unidos. Atualmente a maioria dos países procura manter um balanço de emissões de acordo com as suas atividades, da mesma forma que as empresas buscam estar ambientalmente neutras quanto à emissão de gases, compensando os seus efeitos com plantios de árvore ou compra de créditos de carbono (entre outros) para que possam desenvolver suas atividades. Isto criou nos últimos anos um mercado de crédito de carbono, além do desenvolvimento de ações eficientes que reduzam as emissões.
Nos próximos artigos, iremos discutir em maior detalhe cada um dos itens, entre os quais as evidências, modelos climáticos e seu uso, variabilidade climática natural, entre outros. Para os interessados em leitura, entre no site do IPCC, onde existem os relatórios sínteses e completos. Sugiro o relatório síntese.



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