Base de dados hidrológicos na gestão dos recursos hídricos I
- Rhama Analysis

- 1 de nov. de 2010
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Para desenvolver a gestão dos recursos hídricos é necessária uma base de dados sobre o comportamento hidrológico das bacias hidrográficas brasileiras. Nas próximas semanas vamos comentar alguns dos aspectos fundamentais sobre os dados necessários para desenvolver uma gestão consistente da água no país.
O desenvolvimento e proteção dos recursos hídricos dependem do conhecimento do comportamento da bacia hidrográfica quanto a interação dos processos físicos, químicos e biológicos. Para isto é necessário à obtenção de informações sobre este comportamento no tempo e espaço com representatividade para o futuro. A obtenção das informações básicas contínuas no tempo e no espaço se refere ao seguinte: quantidade da água, sedimentos na água e qualidade da água. Para entender o comportamento dos outros processos relacionados com a água na bacia hidrográfica são utilizadas amostragens dentro de uma visão de pesquisa e bacias pilotos om representatividade de ecossistemas, já que as ferramentas hoje existentes para estas amostragens não permitem observações contínuas a um custo razoável.
No Brasil, a base de dados iniciou no início do século passado principalmente com observações de precipitações e algumas variáveis climáticas, acrescentadas posteriormente por observações de níveis e medidas de vazões para obtenção das curvas-chave. Isto permitiu termos dados contínuos destas variáveis distribuídas pelo país. Os dados de sedimentos e qualidade da água são mais recentes e possuem um número de postos mais reduzidos.
Uma das questões fundamentais dos dados hidrológicos é a sua representatividade temporal e espacial para a gestão dos recursos hídricos. A cobertura de postos pluviométricos é grande, da mesma forma que a sua representatividade temporal, já que são postos de menor custo de instalação e operação. No entanto, a cobertura de postos pluviográficos que medem a precipitação dentro do dia (usam registradores mecânicos ou eletrônicos) é reduzida e alguns postos ainda necessitam de interpretação, pois grande parte dos registradores são mecânicos com registros em papel. O banco de dados da Hidroweb disponibilizado pela ANA foi um grande avanço para os gestores de recursos hídricos, por disponibilizar os dados para qualquer usuário na internet, no entanto, foi criado com um intervalo de tempo fixo e diário. Esta sendo planejada melhoria para que se possa acessar a informação em intervalos menores que um dia. O radar e o satélite permitem complementar as informações dos pluviômetros, principalmente quanto a sua representatividade espacial, mas não substituem o pluviômetro e o pluviógrafo.
Os demais dados climatológicos apresentam uma rede menor, no entanto a variabilidade espacial das outras variáveis climáticas não são tão significativas para a hidrologia como a precipitação. A maior dificuldade quanto a estes dados tem sido o acesso aos dados. Os dados de níveis d´água e a vazão, da mesma forma que de sedimentos e qualidade da água são os mais desafiadores e apresentam maiores incertezas. A cobertura temporal e espacial é limitada. A rede hidrométrica foi planejada no século passado dentro de uma visão de planejamento energético de grandes Usinas hidrelétricas, portanto grande parte dos postos com séries longas estão em grandes rios, enquanto que os afluentes e pequenas bacias praticamente não existem dados. Isto limita muito a gestão dos recursos hídricos e pode gerar conflitos, já que ao extrapolar dados de bacias maiores para menores são introduzidos erros que tendem a superestimar a vazão, ou seja, tende a superestimar a disponibilidade hídrica, que se reflete na outorga de recursos que não existem.
Nas próximas semanas vamos discutir alguns aspectos relacionados a incertezas das informações hidrológicas e seu impacto nos estudos hidrológicos e de gestão de recursos hídricos.


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