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A excepcionalidade das inundações

  • Foto do escritor: Rhama Analysis
    Rhama Analysis
  • 21 de mar. de 2009
  • 3 min de leitura

Frequentemente o noticiário mostra uma inundação em alguma parte do Brasil e do mundo. Os parâmetros de destaque são: a precipitação, o número de morte e afetados e os prejuízos econômicos. No caso de terremotos o impacto tem sido sintetizado num indicador que é a escala Richter, mas em inundação isto não existe.

A precipitação é informada em milímetros, que para a maioria das pessoas não tem muito significado. Como grande parte das pessoas não entende do assunto (o que é normal), os números flutuam e desinformam. O escoamento que provoca a inundação depende de vários fatores, um deles é a precipitação. O efeito da precipitação depende da magnitude e da duração. Isoladamente estas informações não tem significado. O segundo fator é a bacia hidrográfica e sua cobertura. Uma chuva sobre uma bacia pequena (urbana) tem risco maior com durações pequenas e mais ainda quando está impermeabilizada. Veja o exemplo dos últimos dias em Belo Horizonte e São Paulo com mortes e danos importantes. As chuvas foram importantes devido à duração de poucas horas e principalmente devido à impermeabilização do solo e canalização que amplifica a cheia em cerca de 7 vezes ( > 60% de área impermeável). Para uma bacia não-urbanizada estes valores não seriam tão excepcionais como foram e nem tão rápidos. Estas cidades em vários de seus locais não resistem chuvas de 30 mm em 1hora, que tem um risco inferior a 5 anos. Os resultados são que em todos os períodos chuvosos continuarão a existir estes problemas.

No entanto existem chuvas excepcionais como a que ocorreu na bacia do arroio Fragata entre Capão do Leão e Pelotas, no Rio Grande do Sul em 28 de janeiro de 2009. De acordo com o Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado, que medem as precipitações em alguns locais da região, no período das 17:00 às 20:00 horas do dia 28/jan a chuva foi de 329 mm. O valor total de 24 horas ficou próximo de 600 mm. A chuva anual nesta região é da ordem de 1300 mm. Portanto choveu em 1 dia quase a metade do que se espera, em média, num ano inteiro. Para esta magnitude de chuva numa cidade, o resultado seria um grande desastre de proporções incalculáveis. No caso específico ocorreu a queda de uma ponte na BR116, a interrupção da mesma rodovia em outras pontes, e ocorreu o descarrilamento de um trem, em função do rompimento de um trecho do aterro sob a ferrovia, junto ao Arroio Fragata. Além disso, morreram 12 pessoas, e foram atingidas cerca de 3.000 pessoas (fotos abaixo).

Em nível mundial existem dados publicados mostrando os maiores registros de chuva para cada duração (Hidrologia: Ciência e Aplicação de Carlos Tucci, pg 238). A maior chuva registrada em 42 minutos registrada é de 304,8 mm em Holt, Mississipi; 4 horas e meia 782,32 mm em Rockport, W. Virginia, para 12 h 1340 mm em Beulove na Ilha de Reunião, em 24 horas, 1870 mm também na Ilha de Reunião e de 11 meses (quase um ano) na India com quase 23 mil mm (grande parte do Brasil a chuva média anual é da ordem de 1500 mm, na Amazônia 2200 a 2400 mm). Portanto, a chuva do arroio Fragata perto de Pelotas é excepcional e chega e é cerca de 50% da maior registrada a nível mundial, para a duração de 3 horas.

Esta excepcionalidade combinada com as condições da bacia hidrográfica pode levar ao que se chama “da inundação perfeita”, ou seja, combinações desfavoráveis que levam ao risco máximo. Seriam de dois tipos: (a) situação natural, onde a chuva de grande magnitude com uma duração maior ou igual ao tempo de deslocamento da bacia da água na bacia, maximiza o impacto. Combinando ainda com grande população na área de risco, o prezuízo é significativo. A perda média anual por prejuízos de enchentes nos Estados Unidos é da ordem de US$ 12 bilhões (menos de 0,1% do PIB). No caso do Katrina foi de 120 bilhões (ainda abaixo de 1%). Outros países na África como Moçambique estes prejuízos podem chegar a 30% do PIB.

(b) artifical ou induzido: em áreas urbanas com grande concentração urbana e áreas impermeáveis e condutos, a cheia é amplificada pelo uso solo. Uma chuva de pequena duração (tempo de deslocamento rápido dentro da cidade nas pequenas bacias urbanas), leva a grandes prejuízos e freqüentes. Por exemplo, estima-se que o potencial prejuízo em Tokio por enchentes combinado com Tsunami chegue a mais de 1 trilhão de dólares.

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